Tem uma imensidão negra abaixo de mim.
Um grande, profundo, obscuro, frio, úmido, fedido e assustador buraco negro que só faz me olhar, como se quisesse mee engolir por inteiro.
Sinto-me inclinado a dar fechar os olhos e mergulhar nesse feio anti-mundo de... de... de não sei mais o que estou falando, me sinto afogar.
Já me sinto com as pontas dos pés deformadas pelo gelo em que se transformou a água dos meus músculos com a baforada gelada que vem lá de baixo.
Já sinto os pêlos da minha perna encolhidos pela chama quente de dor que emana do mais profundo sofrimento.
Curiosa, essa tristeza, não? Fria e gelada. Quente e aquecida. Com o pior de cada estação do ano - a alergia a flores, a seca escaldante, o frio crucificante e a morbidez das árvores. Como a pior lembraça de cada etapa da vida - a infância sofrida e reprimida, a adolescência sofrida e reprimida, a idade adulta sofrida e reprimida, a velhice sofrida e reprimida. É o melhor que cada criatura maléfica pode dar de si.
É vermelho-dor, é azul-fome, é roxo-asfixia, é negro-escuridão, é verde-vômito, é amarelo-hepatite, é branco-sem-vida.
Esse buraco que aos poucos me suga é um pouco disso tudo, um tudo disso pouco, um fracasso atrás do outro, um outro atrás de cada um dos meus fracassos. Jogando na cara, cuspindo no prato que comi por mim.
Cada humilhação. Cada tristeza.
Lá vem a imensidão negra de novo.